A pessoa com esquizofrenia experimenta a realidade de forma diferente e tal vivencia invariavelmente causa muitos conflitos nos relacionamentos. Ela começa a ter dificuldades de ser relacionar com as outras nos diversos ambientes. Passa a se isolar e se sentir solitário. Aumenta a distância em relação aos outros, evita sair com os amigos, não conversa muito quando parentes vão a sua casa.
Essa situação começa a se tornar cada vez mais problemática e estressante. A família percebe suas dificuldades, mas acredita que se trata de um período de mudanças, uma fase difícil que a pessoa vai superar.
Os indivíduos que têm predisposição para doença (esquizofrenia) têm maior vulnerabilidade ao estresse e as decepções ante a vida e quando elas acontecem são os elementos que disparam o processo que desencadeia os sintomas de esquizofrenia.
Antes do surgimento dos sintomas acontece o período que é chamado de pródomos. Nele, gradativamente a pessoa vai mudando sua maneira de perceber o mundo a sua volta e o relacionamento com os outros.
Aos poucos começa a ter percepções diferenciadas das coisas e dos acontecimentos que o cercam. As cores das coisas e os lugares, assim como os sons passam ser sentidos com uma intensidade maior. Os pensamentos as vezes se confundem, não consegue interpretar de forma correta o que falam. Ao mesmo tempo, começa ouvir vozes.
Odores e gostos não são mais o mesmo, o que é chamado de alucinações olfativas e gustativas.
O indivíduo está vivenciando um período de crise no processo de esquizofrenia, tecnicamente conhecido como episódio psicótico agudo.
Para familiares é como se estivesse fora da realidade. Já para comunidade, rotulam como “loucura”. A comunidade se afasta, o que contribui para o isolamento da pessoa com esquizofrenia.
As vivencias resultam em uma relação muito diferente com o mundo, em que sua realidade interior se desorganiza e não corresponde coma realidade externa compartilhada. As experiencias de alucinações e delírios causam confusão nos pensamentos e percepções, o que é chamado de desorganização ou desagregação do pensamento.
O individuo tem dificuldade em expressar o que sente e em perceber como as pessoas expressam seus sentimentos, o que é chamado de embotamento afetivo. Não reage, tanto a situações alegres como as situações tristes, como se não tivesse sentimentos.
Além disso, outro sintoma que causa incompreensões é a falta de vontade, não consegue realizar as tarefas simples, como arrumar a própria cama e outras tarefas cotidianas da casa. Essa postura muitas vezes é entendida com preguiça. Na verdade, a pessoa se sente sem energia, sem motivação para realizar atividades que naturalmente fazia antes. Esse sintoma é chamado de abulia.
A imagem e a ideia que as pessoas têm do paciente com esquizofrenia é de alguém com um comportamento muito estranho, que fala coisas incompreensíveis e que não compreende as coisas mais simples que são ditas. Já o doente também não entende o que as pessoas falam e fazem.
A desorganização gera muitas incompreensões e conflitos nos relacionamentos. Os familiares não conseguem entender que a pessoa está vivendo uma experiencia muita intensa e sofrida, esperam que ela aja de uma maneira que corresponda aos hábitos cotidianos, entretanto a pessoa não consegue e isso gera angústia.
Importante reforçar que a esquizofrenia não é uma doença que se resolve naturalmente apenas tomando remédios. A recuperação se dá em um caminho de construção interior tanto da pessoa como dos familiares. Para isso, o médico psiquiatra e toda rede de apoio podem ajudar nesse processo para adquirirem uma vida com qualidade.
Forte abraço,
Gleize Fonseca – CRP 06/112812
Referência:
ASSIS, Jorge Cândido de; BRESSAN, Rodrigo Affonseca; VILLARES, Cecilia Cruz. Conversando sobre a esquizofrenia. São Paulo: Segmento Forma, 2008.